O Mestre Maçom
perante a Loja
No meu entendimento, o
termo que mais bem ilustra o que deve ser o Mestre Maçom perante a Loja é
"disponível".
Disponível para
exercer os ofícios para que seja designado. Previamente a isso,
disponível para aprender os deveres dos ofícios que deve exercer. Durante esse
exercício, disponível para detetar, preparar e executar a melhor forma de
exercer o seu ofício. Sempre disponível para entender que o exercício de
qualquer ofício em Loja - incluindo o de Venerável Mestre; particularmente o de
Venerável Mestre - não constitui o exercício de um qualquer Poder, mas tão só
um serviço, o cumprimento do dever de cooperar na administração da Oficina.
Disponível para, cessado o período de exercício do ofício, deixar ao seu
sucessor tudo o que a ele é inerente pelo menos em tão boas condições como as
que recebeu - preferentemente, em melhores condições.
Disponível para
ensinar e aprender. Disponível para preparar e apresentar pranchas na Oficina.
Não será pedir muito a um Mestre Maçom que, pelo menos de dois em dois anos,
tenha uma prancha traçada pronta para ser exibida perante a sua Oficina - e se
todos os Mestres da Loja assim procederem, seguramente em todas as sessões de
Loja haverá trabalhos apresentados. Disponível para ouvir os trabalhos dos
demais e sobre eles ponderar e deles aproveitar o que lhe seja útil. Disponível
para debater, trocar opiniões, não para "ganhar discussões" mas para
extrair de diferentes conceções os pontos de convergência, as pontes de
ligação, os denominadores comuns, os patamares que permitam as evoluções das
posições expostas, os consensos atingíveis.
Disponível para as
tarefas e projetos e iniciativas que a Oficina leve a cabo. Para auxiliar na
execução das muitas boas ideias que surgem, independentemente de quem as tem.
Sobretudo disponível
para estar presente, não só fisicamente, mas com toda a sua diligência e atenção
- porque só assim será verdadeiramente útil à Loja e verdadeiramente a Loja lhe
será útil a ele.
Finalmente, também
disponível para, estando presente e pronto para o que preciso for, nunca impor,
nem a presença nem a disponibilidade, deixando que naturalmente todos
contribuam para todos. O Mestre Maçom integra, faz parte de uma Loja, não é
"dono" nem "mentor", nem colonizador da sua Loja. Tão
importante como estar disponível para a sua Loja é ter a noção e o equilíbrio
de que os demais também estão e que uma Loja saudável recebe os contributos de
todos, não só de alguns mais assertivos em fazê-lo. Há um tempo
para fazer e um tempo para descansar e deixar que os demais também façam. Numa
Loja equilibrada, não há "estrelas" nem "seguidores", todos
são "primas donas" e todos são "carregadores do piano" - a
vez de ser uma ou outra coisa chega a todos e deve ser por todos bem acolhida.
O Mestre Maçom que verdadeiramente o é tem a clara noção de que a Loja deve ter
todos disponíveis, mas ninguém insubstituível - o cemitério, esse sim, é que
está cheio de insubstituíveis... e a vida continua...
Em suma, disponível
para entender e praticar que integrar uma Loja maçónica é dar e receber. E,
portanto, que se impõe estar sempre disponível para dar ao grupo a colaboração,
a atividade, a solidariedade, a atenção, o tempo, o esforço, que o grupo
necessita e merece que se lhe dê, mas também saber estar disponível para
receber do grupo e de todos os demais que o integram a ajuda, os ensinamentos,
as críticas, as opiniões, as sugestões, os contributos que o ajudarão a
conseguir ser um pouco melhor. Ao contribuir para a Loja, para o grupo, está a
juntar-lhe algo que fará do todo um grupo melhor. Quanto melhor for o grupo,
dele mais e com mais qualidade receberá e aproveitará. E indivíduo e grupo
mutuamente se vão fortalecendo, vão progredindo, vão melhorando, num virtuoso
ciclo que só depende de um pouco do esforço e da contribuição de cada um.
Dar e receber. Estar
disponível para ambas as ações. É, afinal, tão simples ser maçom...
Rui Bandeira